terça-feira, 3 de julho de 2012

ELECTRICAL STAND-UP

Foi aqui há uns dias atrás que o Alberto me avisou do filocafé 'Electricidade',
algo que quase logo a seguir me veio a ser confirmado pelo Vinagre. Tinha sido por
volta das cinco da tarde que o tinha encontrado no café Barcarola – Calar Rabo –
Obra Clara – Cabra Oral (são anagramas que faço com o nome do estabelecimento) –
Só faltava um eme para 'carambolar'...
O café Barcarola, fica ali na paranhóica, paranhókia, de Paranhos, onde
ambos temos situadas as casas onde vivemos....
O Alberto estava sentado lá, confraternizando num beberete, com o Paulo, o
arrumador de carros do sítio.
– Um aparte para vós: vou, por isso, procurar não prejudicar, em nada, a imagem
do Paulo (não o diminuindo mesmo com a maneira como o tratam, de 'Paulinho'), que,
aliás, nem conheço muito bem, nem está aqui presente; pelo contrário, portanto,
sempre respeitando o que tiver que ser respeitado na sua pessoa –.
Primeiro, o Alberto começou por me falar – dentro do tema do filocafé, que
antecipávamos já, com os primeiros surtos provindos das nossas incipientes
cogitações – do topos corporal eléctrico, o qual sapientemente consciencializado,
poderia dar uso a, por exemplo, acender as lâmpadas de uma casa telecraticamente.
Ao que respondi, sugerindo-lhe que considerasse o que Pierre Galvani descobrira já
há uns séculos, devido às suas experiências com tecidos nervosos estimulados pela
electricidade.
Após isso, um tanto de maneira a apresentar o Paulo, que estava um pouco
calado, o Alberto disse:
– Aqui o Paulo é um intelectual de primeira, um intelectual como o Heidegger!
Quando o Alberto me disse isto, rapidamente pensei: 'Ora bolas, Alberto!
Com esta, é que me tramaste! É que eu não conheço quase nada do Heidegger, sou
um autêntico ignaro nesses assuntos da ontologia e da hermenêutica, nunca li 'O Ser
e o Tempo'... estava tramado! Não sabia como responder! Ainda por cima, há aquelas
filiações macabras no partido nazi... Respondi:
– É certo que não conheço bem o Heidegger, mas acredito...
– … Acreditas? (interrompeu-me o Alberto). Acreditas? Olha que isso de
acreditar... Pois, eu não acredito em crença nenhuma!
Nesse momento, pensei: isto parece-me ser a crença de que só há... crenças!
Ora, ante a decisão, unânime entre os três, de deixarmos o café naquela
altura, pagámos o devido e saímos para tomar ar.
Foi então que, à nossa saída, passou o Danton – que, mesmo assim, é um
personagem mais simpático da Revolução Francesa –, que nos disse:
– Salut!
O Alberto respondeu-lhe:
Salut! Liberté! Égalité! Fraternité!
Depois do Danton entrar e nós os três saírmos, O Paulo – o arrumador de
carros –, virou-se para o Alberto e disse:
– Não podias ter dito aquilo ao Danton, Alberto. Tu próprio tinhas dito, dois
minutos antes, que não acreditavas em nenhuma crença! Achas que podes dizê-lo?
(Foi a vez de eu interromper, antecipando-me ao Alberto)
– … Estou a ver agora, Alberto, porque é que o Paulo é um intelectual de
primeira...
Despedimo-nos do Paulo, que reiniciou a sua actividade da arrumação dos
carros...
E a missão do Paulo está – espero eu! – bem cumprida, neste stand-up.
Eu e o Alberto, dizia, dirigimos-nos então, a minha sugestão, ao multibanco
mais próximo. Estava lá o palhaço Batatinha que acabara de usar o cartão, tendo-o
ainda na mão.
– Olá, Palhaço Batatinha! (cumprimentei eu). Empresta-me o seu cartão, de
maneira a tirar algum dinheiro?
– Faça o favor, caro amigalhaço! Aqui tem o cartão...
Depois de ele marcar o código, levantei 10000 euros (coisa impossível: o máximo
que poderia levantar seriam 400 euros, mas estamos a fazer um tanto 'de conta'...).
Por fim, despedimos-nos do palhaço Batatinha.
– Alberto, (disse eu) vem daí comigo!
– Onde?
– Avante!
Meti-nos, assim, num táxi-carrinha, e indiquei a direcção de várias livrarias,
às quais o taxista nos levou, depois de nelas enchermos sacos com livros, os quais
colocámos na mala do táxi-carrinha.
Comprámos cerca de 700 livros, livros na maioria Clássicos, que ambos, eu e
o Alberto, considerámos que eram de incontornável leitura, muitos deles tendo-os já
lido...
– Então, Jorge? Agora, que me propuseste que te ajudasse a escolher bons
livros para comprarmos, que queres tu fazer com eles? (perguntou o Alberto)
– Não me disseste, Alberto, que um empregado de mesa, um garageiro, um
electricista (nada a priori contra qualquer destes ofícios), não são nem mais nem
menos capazes, não são nem mais nem menos intelectuais, não são nem melhores
nem piores espíritos, nem superiores nem inferiores, a um Tolstoi ou a um
Dostoievski, enquanto escritores das suas obras?
– E continuo a dizê-lo! Tu conheces-me já o suficiente, para saberes logo que
reitero...
– Então, meu caro, vamos a casa do electricista. Enchemos-lhe as estantes,
com estes livros. Suponho que tenha poucos. Assim, ficará bem abastecido.
– Embora lá! (terminou o Alberto)
Indiquei a direcção da paronhóica paranhókia de Paranhos, sendo que a casa
do electricista também se lá localizava.
O taxista disse-nos que ele próprio se chamava Travis. Tinha vindo de Paris,
no Texas, e só parara em Nova Iorque como driver, tendo predilecção pelas noites
cinéfilas da capital, onde apreciava a Cibyll Shepherd, muito nova, em 'The Last Picture
Show'.
Chegámos, enfim, à Paranhókia, a casa do electricista. Começámos, assim,
o transporte dos livros para as estantes, coisa na qual ele, a mulher e os três filhos
menores, nos ajudaram. Quando a operação ficou acabada, soltei um suspiro
profundo e exclamei:
– Pronto! Parabéns, caro amigo electricista, as tuas estantes estão cheias, vais
ter aqui muito que ler. Boas! Até logo. Vamos, Alberto!
Tendo-nos despedido do electricista e da sua família, rumámos a nossas
próprias casas, para jantar: jantar a seguir ao qual, tínhamos combinado novo
encontro.
Encontrámos-nos, assim, por volta das nove e um quarto, mesmo à porta de
minha casa, que fica no caminho da casa do Alberto para o nosso usual sítio de
reunião entre amigos, o dito café Barcarola.
Ora, quando desci, com o Alberto na porta de entrada do prédio à espera,
não nos dirigimos para o café, mas para o multibanco próximo, em sentido contrário,
para onde guiei o Alberto.
Por acaso, no multibanco estava o Salman Rushdie que tinha acabado de
levantar dinheiro para si. Disse ao Salman:
Mr. Rushdie, do you mind? Would it be possible if you borrough your card,
to take some money, Mr. Rushdie
?
Not at all, my friend. Go ahead! Take the money you desire!
Assim foi que, tendo ele digitado o código, levantei mais 10000 euros.
Do meu telemóvel, chamei um táxi, disse ao Alberto que me acompanhasse
(o que, com a sua habitual generosidade, logo assentiu), metemos-nos no seu interior
e, tendo dado a indicação ao taxista, fomos directos para o Aeroporto.
No Aeroporto, ficámos na lista de passageiros da viagem para Roma, onde
se situa o Vaticano, tendo pago os respectivos bilhetes. Como estes até foram bastante
baratos, sobrou-nos dinheiro bastante para meter uma 'cunha' que nos permitisse um
particular com o Papa, na manhã seguinte.
A 'cunha' resultou e, depois de um excelente pequeno-almoço, lá nos
encontrámos com Sua Santidade, a qual principiou por nos dizer:
– Meus filhos, Deus esteja convosco. O que vos traz aqui?
– (respondi-lhe) Fui eu, Sr. Papa, que tomei a iniciativa e pedi ao Alberto que
me acompanhasse para falar consigo.
– Sobre quê?
– Desejava que o amigo Alberto expusesse ao Sr. Papa a sua maneira de se
situar perante a religião, e a sua maneira de ver as coisas religiosas.
– Então, diga lá, amigo Alberto.
– É simples, senhor Papa. Eu acredito no Milagre de Fátima, mas não
acredito nos três pastorinhos!
– E em Deus, acreditas, meu filho?
– Mas está claro que acredito!
– E em mim, meu filho? Acreditas em mim?
– Isso é que... nem pensar! Não acredito numa única palavra das que o Sr.
Papa me diga!
(nesse momento fez-se um longo silêncio na sala, o qual foi interrompido pelo
do toque do meu telemóvel: era o Bruno, o nosso amigo Bruno Miguel Resende)
– Está, Bruno? Está lá? Sim! Sou eu, Bruno... Isto está a correr conforme
combinámos. Sim, sim... Agora, o Santo Padre está a reflectir sobre as iconoclastias
do Alberto. O quê? Ó, vê lá, Bruno! O Santo Padre está agora a perdoar o Alberto! Ó,
Bruno! Está a abraçá-lo! Espera aí... Está a dizer-lhe que não se importa que o Alberto
não acredite nos padres nem nas religiões, desde que continue a acreditar no basilar
sustentáculo deles... Isso, Bruno! O Santo Padre está a dizer ao Alberto que ele está
perdoado, desde que continue a acreditar em Deus! O Papa diz que, se não fosse
isso, decepá-los-ia! Ainda poderiam dar outro nome a Deus! Quiçá... Qui sait? Seria
Caput mortum! Sim – e claro! Fica contente, o Santo Papa, que o Alberto acredite nos
milagres! O quê?! Olha, Bruno: o Papa está a choramingar com o Alberto, a dizer que
ele é um santo homem! Sim, Bruno, santo!... Não... Não 'tanso', mas.... santo! Sim!
Sim... O quê?... Estamos aqui! Aqui, no Vaticano!... Não, não é no Vit'acona, Bruno; é
no Vaticano! Se voltamos para Portugal? Sim, claro, Bruno. Não vou deixar aqui o
Alberto prestes a converter-se! Sim... Sim... Olha, Bruno, combinamos uma coisa, falo
amanhã contigo e com a Fátima, por esta via, vamos falando. Voltamos – isso sim,
conta com tal – só daqui a três meses. Sim... Sim... Eu e o Alberto... Só daqui a três
meses... Não, eu trato disso! Pronto, ciao, Bruno, até amanhã! (desliguei o telemóvel)
(Entretanto, estavam o Papa e o Alberto agarradinhos a choramingar como
duas carpideiras. Foi então que arranquei o Alberto dos braços do Papa, o que o fez
despertar do seu fervoroso transe sonambúlico. Estremunhado, disse:)
– Ai! Jorge!... Que faço eu aqui?... Onde estou? Que faz esta avantesma
branca agarrada a mim? Quem é este espectro macabro de mau agoiro?
– Alberto, deixa lá! (disse eu) Descansa, foi tudo uma confusão... Ou talvez
um milagre... Vamo-nos daqui! Passe muito bom-dia, Sr. Papa. Arrivederci!
(Conduzi o Alberto, ainda meio assarapantado, pelos corredores do Vaticano
e pusémos-nos cá fora. Na entrada da Santa Sé, não por acaso, fica uma caixa de
multibanco, que foi para onde nos dirigimos).
(Encontramos lá, a levantar uma certa quantia, o deus Hermes – que foi,
talvez, o deus onde assomaram os auspícios mitológicos da electricidade – o
mensageiro de lestas sandálias, do Olimpo).
– (Voltei-me para o deus e disse-lhe) Sua Excelsa Divindade, deus Hermes
de plenos atributos e de muitas sortes e fenómenos. Será que pode conceder, aqui, a
estes dois comuns mortais em desdita financeira, algum do seu dinheirito?
– Não seja por isso, a Tique é minha amiga. Aqui têm o meu cartão...
Esperem aí... (Meteu ele mesmo o cartão, digitou o código pessoal e, com um
pequeno gesto, fez-me sinal para levantar o que quisesse. Levantei 10000 euros)
– Obrigado, deus Hermes, até à vista!
– Ao vosso dispor, sempre que quiserem. Tenho de me despachar, perdão!
Tenho uma mensagem para entregar! Adeus!
(Tendo ido embora o deus Hermes, o Alberto já olhava para mim espectante
em relação a que iniciativa tomar. Estava, por sinal, um quiosque lá perto, perto do
multibanco, um quiosque de venda de jornais. Uma notícia em parangonas
sobressaltou à nossa simultânea atenção. Disse, então, ao Alberto)
– Já viste, Alberto? Aquela notícia, ali? Naquele jornal? Estás a ver?... A
notícia?... Aquela que diz: 'Degolou a mãe e matou as irmãs!'?
– A notícia, estou a ver, Jorge, essa frase... Mas não dá para ver o resto da
notícia... Está tapada pelo jornal sobreposto um pouco mais abaixo... Mas tem um
plástico por cima... E o quiosque está fechado... Que fazemos? Esperamos que
reabra? Para lermos o resto da notícia?
– Sim, se calhar, seria interessante sabermos algo mais sobre isto. Mas
agora temos de nos despachar... Olha, um táxi! Vamos!
– Onde?
– Avante!
(Metemos-nos no táxi e indiquei o aeroporto. Durante a viagem de táxi, eu e o
Alberto conversámos sobre aquela notícia insólita)
– Então, Alberto, que dizes? (disse eu) O como é de formato jornalístico. O
que é bem evidente: um facto criminal hediondo. E o quem, Alberto? De quem se
tratará?
– Lá vens tu com o quem, Jorge! Tens a mania do quem! É o que, é o que, é
o que importa, o texto, o que está dito... Deve tratar-se de um rematado facínora
doente mental!
– Realmente, (disse eu) degolar a mãe e matar as irmãs...
– Os meus senhores (interrompeu o taxista), importam-se que eu próprio vos
esclareça um tanto sobre essa notícia que, decerto, devem ter lido nos nossos
matutinos de hoje?...
– Mas, é claro! (disse o Alberto). Continue!
– Era a si mesmo, caro Sr. Alberto, que pretendia obtemperar e esclarecer,
numa palavra, desenganá-lo!
– Siiiim... (respondeu o Alberto, um pouco surpreendido)
– Eu próprio fui amigo pessoal, durante muitos anos, do autor desses crimes
– o Sr. Pierre Rivière – e da família contra a qual ele os perpetrou. Para bom
entendedor, meia palavra basta: face às constantes canalhices e pulhices que tão mal
lhe fizeram, que a sua família, antes, havia cometido sem escrúpulos durante anos e
anos, o Sr. Rivière – digo-lho, Sr. Alberto – não poderia ter respondido de outra
maneira. Se fosse comigo, fazia muito pior! Mas, vejam, o Aeroporto! Chegámos!
(Tendo agradecido o esclarecimento do taxista, pagámos-lhe a viagem e dali
saímos para o aeroporto. Já no seu interior, adquirimos bilhetes para a próxima
viagem para a Albânia, onde se situava uma Ordem de Monges Trapistas, que nos
vinha mesmo a calhar, para que o nosso isolamento e atinente concentração fossem
absolutos).
(A viagem foi rápida. E, ao fim de um dia, tinhamos iniciado la trappe. Qual
era o meu desígnio principal, neste nosso ingresso? Que, ao fim de três meses
dedicados ao estudo heterodoxo, mas não impertinente, do budismo – repito, do
budismo – inclusive das inflexões do satori zen –, numa Ordem Trapista, alguma
solução havíamos de encontrar para muitas anteriores discussões e respectivas
interrogações, isto é, entre mim e o Alberto).
(Os três meses, a passar, propriamente, não... custaram. Mas, ao fim desse
período, sinceramente para ambos, já não queríamos outra coisa senão voltar – e não
era por saudades específicas das nossas casas! – estávamos, sim, fartos de toda
aquela beatitude monacal!)
(Por um lado, os trapistas genuínos, baseados na Imitatio Christi, de de
Kempf, esses sacerdotes ascetas, demonstravam, ainda mais que um nada de
vontade, uma vontade de... nada! Quanto a nós, e aos nossos colegas trapistas que
se dedicaram aos Upanishades ou ao Código de Manu, por exemplo, e quejandas
proveniências hindus das respostas búdicas; quanto a nós, dizia... Mas, sim, de boa
saúde espiritual, estava-mo-lo certamente! Estaríamos, na realidade? Nós estávamos
lívidos e vazios com tantos OM e Nirvanas, estávamos aquilo que, no fundo, temíamos
que um dia pudesse acontecer – estávamos estéreis! A Oeste, nenhum problema de
novo! E como, tanto eu como o Alberto, queríamos a nossa querida neurose de volta!
Dissemos ambos, àqueles precoces eunucos – os quais, na maioria, acreditavam na
reencarnação – que tínhamos sido ou guerreiros, ou combatentes, ou legionários, ou
mercenários numa vida passada... Desses lados, devia vir a nossa atávica vocação!
E, assim, nos despedimos!)
(À saída da Ordem – o que é estava lá? Mas – é claro! –: um multibanco! E
quem é que estava lá? Eu digo-vos: desta vez, era o Dalai Lama).
– Meus amigos (disse o Dalai Lama), imagino que, com a dispendiosa
inscrição nesta Ordem que vos deu guarida por três meses, estejam precisados de
dinheiro. Têm aqui, para os dois, 10000 euros. Ou preferem doláres? – É que, se
assim for, levanto já 10000 doláres!
– Não (disse eu), caro Sr. Dalai Lama, os 10000 euros estão muito bem!
Obrigado!
– Na verdade, eu mesmo me apercebi da vossa vontade avessa e apreciei-a!
Estou disposto a fazer a minha palinódia! Já componho uns pequenos trechos de
música como o velho Sócrates, pouco antes de morrer... O nosso problema era,
afinal, parecido. Mas, não vos detenho nem mais um segundo. Adeus, passem bem!
– Adeus, caro Dalai Lama, e obrigado! (respondemos os dois, em uníssono)
(Foi assim que, pelo telemóvel, chamámos um táxi, neste seguimos para o
aeroporto, e daí voltámos para Portugal)
(Já depois de reinstalados nas nossas casas, na Paranhókia, fomos a casa
do electricista – a qual tínhamos, antes, abastecido de livros. Desejávamos ambos,
tanto eu como o Alberto, saber alguma coisa das evoluções do electricista no seu
enveredar espiritual pela cultura universal e da sua transformação trimestral num
sensível intelectual. Pois, digo-vos, amigos, em voz alta e com todas a letras: QUE
DECEPÇÃO! Que vimos nós, tanto eu como o Alberto? Os livros tinham sido todos
usados para papel higiénico, para alimentar a combustão da lareira e, quanto aos
restantes, os miúdos menores usavam-nos como bolas de futebol um pouco
heterodoxas e às quais – aos livros – andavam aos chutos)
(Entretanto, havia o dinheiro que nos tinha restado, do Dalai Lama, o qual, na
realidade, eu pensara em utilizar para apoiar alguma edição de autor das primícias
literárias do electricista. Mas... Com esta Decepção! Que acabámos eu e o Alberto por
fazer? Em prol da abolição do Kapital, do universal capitalismo? Escondendo-o de
toda a gente, enterrámos o dinheiro, bem fundo, num terreno descampado. Havia que
começar por algum lado)

Jorge Taxa, Porto, 30/6/2012

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